quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Só hoje

Depois de aproximadamente três meses e meio de sangria de petróleo no mar, ao que parece conseguiu-se estancar o vazamento. Agora é hora de contabilizar os danos ambientais e econômicos (é impressionante como esses dois termos já estão frequentemente associados – um dia perceberemos a sua redundância). Poderíamos também calcular os prejuízos (ambientais e econômicos) de outros estragos feitos pelos combustíveis fósseis. Só nas manchetes de hoje podemos citar estrago feito pelas tempestades na China, considerar também os números do Paquistão e das queimadas na Rússia. Não são só eventos climáticos extremos, são prejuízos extremos.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

De volta ao mundo novo

Uma grande mudança na sociedade brasileira ocorreu durante o período em que este blog ficou sem receber postagem: percebemos enfim os riscos da exploração de petróleo em alto mar e timidamente começamos todos pelo menos a atentar para o risco. Como este blog reiteradamente alertou (ver postagens anteriores), estávamos deslumbrados demais com o pré-sal para questioná-lo em qualquer aspecto que fosse. Hoje a situação mudou. Recentemente a ANP começou a mostrar preocupação não só com o aspecto da segurança, mas também com as mudanças tecnológicas vigentes (http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2010/07/27/o-mico-a-pressa-311409.asp). É curioso, mas precisaram se passar três meses e diversas tentativas de conter o vazamento petróleo no maior acidente desse tipo. Foi necessário outro acidente do tipo na outra potência mundial para que déssemos contas do risco que sempre foi evidente e já ocorreu por aqui.
Hoje mesmo saiu mais uma matéria: (http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/07/entenda-os-riscos-da-exploracao-de-petroleo.html)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Enfim uma boa notícia

E a notícia demorou 21 anos para se tornar realidade:(http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100708/not_imp578039,0.php).

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Por todos os lados

Os esforços são por baixo e por cima (http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/afp/2010/07/07/aviao-experimental-que-funciona-com-energia-solar-inicia-voo-historico.jhtm).

terça-feira, 6 de julho de 2010

A velocidade relativa

A direção parece certa, a velocidade parece firme, logo, logo estaremos lá (http://colunas.epocanegocios.globo.com/tecneira/2010/07/06/carro-eletrico-bate-recorde-usando-baterias-de-laptop/).

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ouvidos (realmente) moucos

É incrível como um país em que até mesmo um aparentemente inofensivo bueiro explode, pode confiar tanto que não vai acontecer nada com suas perfurações de petróleo em águas cada vez mais profundas.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A nova realidade e as disputas (não esportivas) na África

É consenso que a China em seu ritmo de crescimento logo mais esbarrará no gargalo da falta de recursos naturais. Por isso ela mantém seu apetite em países estrangeiros focando o investimento especialmente no setor de produtos primários a fim de assegurar o suprimento de recursos no futuro próximo. A carente África é vista como uma oportunidade. Mas é de lá onde os conflitos característicos desse século devem se evidenciar – ou melhor, já se evidenciam (http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,paises-africanos-brigam-pelas-aguas-do-nilo,572147,0.htm). Nesta notícia chamam a atenção as taxas de natalidade – que alimentam o ciclo exigindo volumes colossais de investimentos e, intervenções drásticas no corpo d´água e naturalmente, um clima pouco amistoso.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O relógio do tempo

25 milhões de pessoas afetadas e 175 mortos por tempestades na populosa China (http://noticias.br.msn.com/artigo.aspx?cp-documentid=24641921). Na pequena Alagoas quase 60 mil desabrigados, mil desaparecidos (http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2010/06/21/calamidade-publica-e-decretada-em-15-cidades-de-alagoas-1087-estao-desaparecidos.jhtm). Dos dois lados do mundo as chuvas intensas castigam. Políticas Públicas para a adaptação às mudanças climáticas já são imprescindíveis, principalmente com os tropeços na migração para a economia de baixo carbono.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O futuro do passado e a cidade

No decorrer do século passado, São Paulo cresceu em um ritmo nunca visto. Um bom panorama pode ser conferido num ótimo artigo do Estadão (http://issonaoenormal.com.br/post/os-rios-foram-asfaltados). É uma das mais claras demonstrações do sentimento geral do referido século de que a engenharia humana poderia sobrepujar os limites naturais Hoje sofremos o impacto de tal concepção. Diante disso tivemos que mudar inclusive a concepção de futuro. A antes expansão ilimitada (inclusive em direção ao espaço sideral) da engenharia humana deixou de representar o futuro. No novo século, o futuro se apresenta como a busca de integração com a antes adversária natureza e a engenharia humana se dedica a entender melhor como funciona a mesma.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A insustentabilidade de cada dia

Hoje, às 6h00 da manhã passaram-se sete ônibus daqueles grandes (um logo depois do outro) que eu não pude pegar de tão cheios. Enfim tive que subir no oitavo e ficar espremido sem poder me mexer por uma viagem de uma hora e quarenta e cinco minutos alongada pela incapacidade de ultrapassagem do corredor de ônibus da Rebouças e porque as pessoas tentam desesperadamente entrar em ônibus totalmente lotados - travando ainda mais o sistema.
Chegando ao escritório leio sobre um estudo do Inpe – do ótimo Carlos Nobre - que reforça as preocupações sobre o aquecimento global na região metropolitana de São Paulo (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100615/not_imp566622,0.php). A atividade matinal, entretanto, me fez atentar para um detalhe do estudo: “A Região Metropolitana de São Paulo possui cerca de 20 milhões de habitantes e as projeções indicam que a mancha urbana será o dobro da atual em 2030.” É, simplesmente, insustentável.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Uma nova Arábia para a nova economia

Até que enfim Obama está tratando o acidente como se deve tratar (http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/06/obama-compara-mare-negra-no-golfo-do-mexico-a-atentados-do-119.html). Até agora ele mesmo tratava a sua própria lei de energia e clima como uma prioridade secundária. Quem sabe agora empenhe o mesmo esforço que empenho na alteração do sistema de saúde. E os EUA possam liderar com a China e a EU a mudança de paradigma que precisamos para o século XXI.

E por falar em mudança de paradigma, uma boa notícia para a indústria de energia renovável e, principalmente, para o sofrido Afeganistão. O país que não tem petróleo – contrariando as antigas teorias conspiratórias - tem uma grande reserva de um recurso natural fundamental para a disseminação do carro elétrico: lítio (http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/06/eua-revelam-ricas-reservas-de-cobre-e-litio-no-afeganistao.html). Com isso, o país se credencia para ser uma espécie de Arábia Saudita para a nova economia. Esperamos que também com um novo modo de aproveitar a riqueza natural.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O filtro

Se o enorme e cada vez maior desastre ambiental (http://noticias.br.msn.com/mundo/artigo-bbc.aspx?cp-documentid=24539607) não revelar a definitiva disposição mundial em abrir mão desse recurso sujo em vários sentidos, o fato certamente está revelando novas técnicas de comunicação empresarial (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100611/not_imp564832,0.php). Notícias, entretanto, vazam mais que petróleo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ouvidos moucos

A Noruega, sempre citada como exemplo de produtor de petróleo que consegue conciliar a qualidade de vida da sua população com a vida de exportador de petróleo, dessa vez provavelmente não deve ser seguida. A nação decidiu suspender a prospecção e a instalação de novos poços de petróleo e gás enquanto as condições do acidente não se esclarecerem (http://portosenavios.com.br/site/noticiario/industria-naval/3577-noruega-veta-novos-pocos-de-petroleo-e-gas-no-mar).
Mais do que isso, começa-se a discutir a pertinência da expansão da industria no mar. A indústria de petróleo norueguesa quer perfurar no norte do país, perto das ilhas Lofoten, já no Círculo Polar Ártico, numa área importante para a pesca do bacalhau. Alguns dos membros da coalizão de centro-esquerda que governa o país querem evitar que essa área corra riscos de passar por um desastre semelhante ao do Golfo do México.
Riscos do qual o abençoado Brasil se acha imune.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Alhos com bugalhos

Enquanto não se internalizar custos implícitos, realizar a comparação de Belo Monte com energias alternativas como se fez no estudo publicado pelo Governo (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100607/not_imp562553,0.php)
, fica difícil uma comparação real. Os custos implícitos são fundamentais para dar uma dimensão real da situação econômica de cada alternativa. Um investimento subsidiado, não pode ignorar o subsídio na sua composição de custos. Muito menos se devem ignorar custos de transmissão. Também deveriam ser internalizados os custos ambientais não só a da barragem e do alagamento, mas também os da própria transmissão e decorrentes perdas de energia. Se internalizando todo esse custo, Belo Monte ainda fosse viável, muito provavelmente seria um ótimo negócio e, consequentemente, vários grupos teriam se interessado no empreendimento. Definitivamente não foi o que aconteceu.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O mito dinheiro fácil

No Brasil, o pré-sal virou um verdadeiro tabu. Não se pode renegá-lo, de jeito nenhum. É como se tivesse tomado uma dimensão divina. Prova disso, é que nem mesmo diante do maior acidente de petróleo do mundo ocorrido justamente em plataformas marítimas, a candidata do Partido Verde, que se propõe a colocar o Brasil na economia de baixo carbono, ousa questionar a exploração do pré-sal (http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/06/01/marina-critica-inchaco-da-maquina-publica-e-defende-cortes-de-gastos-para-conter-inflacao.jhtm).
Nem sempre a unanimidade é burra, mas dessa vez – maravilhados com a descoberta de uma mina no quintal – esqueceram de contabilizar os custos. Não somente os diretos que são avaliados de forma otimista na base dos U$ 600 bi - o que equivale à metade de do o PIB brasileiro de 2007 - mas também os implícitos. Ou seja, além de arcar com pelo menos metade de tudo o que o país produz, os tomadores de decisão precisam considerar aspectos que precisam ser internalizados na equação econômica como: riscos (não só de acidentes como esse, mas também menor produtividade que a esperada, etc.), externalidades (como impacto ambiental, acirramento das mudanças climáticas, etc.) e principalmente custo de oportunidade (quanto renderia esse recurso se fosse aplicado em outra atividade ou produto mais compatível com a nova economia que se desenha).
Definitivamente a volúpia do brasileiro pelo pré-sal está mais do que arraigado no brasileiro e não serão os políticos em época de eleição que irão questionar. Só há uma explicação plausível para esse fenômeno. A descoberta de petróleo estar associada ao mito do dinheiro fácil. E qual o brasileiro que não sonhou com isso? Infelizmente, entretanto, não podemos dizer que isso seja uma virtude do nosso povo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os buracos que não fecham

Fracassou mais uma tentativa da BP de conter o vazamento de petróleo. 19 mil barris de petróleo continuam a vazar no Golfo do México no pior acidente de petróleo dos EUA. Enaquanto isso, a Petrobras se endivida e busca capital para empreitadas no pré-sal (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100531/not_imp559214,0.php). A China -espertamente - já se predispôs a aportar parte do imenso capital necessário (Estima-se meio PIB brasileiro para meia dúzias de poços em águas profundas) para a aventura em troca de petróleo. Espertamente porque receberá apenas o resultado, sem dividir o risco (um acidente como este seria bem longe dos mares da China).
Já o Brasil segue encantado, achando provavelmente que a Petrobras está a anos luz da BP para lidar com um problema destes. Quem conhece, entretanto, a estatal, sabe que a realidade não é essa. Em um estado grande produtor de petróleo como o Espírito Santo, sequer há um Centro de Defesa Ambiental (CDA), o que é o básico em se falando de prevenção. Tanto é assim que a tão aclamada líder em exploração em águas profundas se limitou à cessão de alguns equipamentos e enviou um funcionário para acompanhar (aprender?) as vãs tentativas da sua prima inglesa.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Olhando pra frente

Além de evidenciar a tradicional falta de coesão das políticas públicas no Brasil, a confusão gerada na divulgação do programa de incentivo ao carro elétrico nesta semana (http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/economia/mat/2010/05/27/impasse-entre-ministerios-da-fazenda-do-desenvolvimento-atrasa-plano-de-incentivo-carro-eletrico-916714238.asp) mostra também uma encruzilhada tecnológica do Brasil.
De um lado, toda a indústria automobilística está fazendo uma opção tecnológica pelo carro elétrico, de outro o Brasil tem uma opção, ainda que não tão eficaz para a redução das emissões dos veículos de transporte, muito mais acessível e viável para uma migração em curto prazo: o etanol.
A primeira oportunidade de ter exportado essa tecnologia já consolidada quando não havia nenhuma opção para o mundo já foi perdida. A indústria automobilística já está consolidando o seu caminho na direção do carro elétrico e a forte indústria brasileira não pode ficar à margem desse processo, por isso seria importante um programa como esse.
Por outro lado, a solução do etanol e os seus representantes têm que buscar as lacunas dessa nova tecnologia como, por exemplo, a necessidade de autonomia dos veículos. A eletricidade é completamente inadequada para veículos de carga e de longa distância. Esse é um segmento extremamente relevante e que por hora se utiliza somente de combustíveis fósseis (até no Brasil, a parte renovável desse tipo de combustível é somente os 5% de biodiesel exigidos no diesel). O direcionamento do foco ajudaria ao setor de etanol e seus defensores uma viabilização dos seus objetivos e evitaria outra oportunidade perdida de ter a sua solução disseminada mundialmente.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A maré trouxe e trará de volta a sujeira

Somente depois de trinta e quatro dias de petróleo jorrando livremente no Golfo do México é que as primeiras vozes contra a exploração de petróleo no fundo do mar aqui no Brasil começaram a se manifestar como mostra a coluna da Miriam Leitão no O Globo de hoje (http://www.diariodepernambuco.com.br/2010/05/25/economia6_0.asp). Já não era em tempo. Isso mostra o tabu que representa no Brasil ir contra o pré-sal. Atualmente parece ser muito mais antipatriótico ser contra a exploração do pré-sal, do que torcer contra a seleção brasileira. E ninguém se pergunta o porquê disso tudo.
Os gastos já são imensos como mostra o artigo, mas deveriam ser maiores ainda para incluir o risco da operação, que não é somente da empresa, mas principalmente nosso. Tudo para caminhar exatamente na direção oposta da criação de uma economia de baixo carbono que viabilizaria a sociedade frente ao desafio do aquecimento global. É importante perceber que hoje o petróleo chega na costa da Flórida, o estado turístico que na eleição de 2000, ao decidir por Bush, deu uma sobrevida maior à economia baseada no óleo que assolará a sua economia.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Três breves postagens

Apesar de eventos climáticos extremos terem recentemente se distribuído pelo país, parece ser o estado de Santa Catarina o que mais sofre com o drama. Anteontem à noite choveu o dobro do esperado para o mês todo. Em Florianópolis foi a maior tromba d´água dos últimos 90 anos. Isso em pleno outono.

No Estadão de hoje há outro excelente artigo, desta vez de Thomas Friedmann (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100520/not_imp554176,0.php) mostrando como Obama hesita num momento que não se pode hesitar.

Pena que a Copa será na Africa do Sul e não na Irlanda. Enquanto essa inaugura um estádio modelo em sustentabilidade (http://verde.br.msn.com/artigo.aspx?cp-documentid=24292788), o país-sede da Copa, embora passe por um racionamento de energia elétrica, deixa a luz dos seus estádios ligada a noite toda.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Por uma melhor ocupação das nossas terras

No Estadão de hoje há um ótimo artigo de André Meloni Nassar http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100519/not_imp553719,0.php) contendo propostas para o código florestal brasileiro superar os impasses sobre a reserva legal e promover uma melhor ocupação das terras brasileiras levando em conta os fundamentais serviços ambientais da floresta conservada. No Brasil, um país que ao mesmo tempo tem a grande parte da sua biodiversidade conservada (muito embora sobre constante pressão) e a área agriculturável extremamente subaproveitada (quase quatro quintos da área agriculturável é ocupada por pastos), essa questão se mostra tão fundamental quanto não resolvida. A revisão do código florestal tem uma imensa responsabilidade de dar um passo à frente e não para trás na criação de valor para a conservação florestal. Dar valor para a floresta conservada é um ótimo passo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Contra o vento

Como fica claro no editorial de José Goldemberg no Estadão de hoje (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100517/not_imp552732,0.php), enfim o governo se colocou na direção correta nos seus Planos Decenais de Energia. Mas além da questão da eficiência energética pouco contemplada no plano, a energia eólica também tem um espaço muito pequeno (6 mil MW para 1019), o que é incompatível com o crescimento dessa forma de energia ao redor do mundo e com a competitividade mostrada no último leilão dessa fonte específica, realizado no fim do ano passado. Os números do plano para 2019 indicam quase nada além do que já foi negociado. Esperemos que isso mude nos planos subseqüentes, assim como se retirou o foco nas termoelétricas movidas a combustíveis fósseis. Mais ainda, esperemos que os planos parem de remar contra a maré e o vento, buscando alternativas energéticas que se mostram extremamente complicadas em tempo de preocupação com as mudanças climáticas e a manutenção da biodiversidade. Para a eólica, o vento está a favor, basta apenas içar a vela.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Os velozes atrasados

Já não era hora de a F1 que é a principal responsável por inovações para a indústria automobilística voltar os seus olhos também para os aspectos de eficiência energética. Mas para 2013. O revolucionário kers - que fizeram a diferença no ano passado, aproveitando a energia cinética da frenagem - devem voltar, assim como os turbos – revolucionários ainda nos anos 80 - para a economia dos motores, que serão além de tudo híbridos. A idéia é assegurar que o consumo de combustível seja reduzido pela metade, sem perda de potência significativa. Mais do que reduzir o seu próprio consumo, a F1 estará voltando ao seu papel de criar as inovações necessárias para os carros de passeio, dessa vez na mão correta. Pena que o uso de biocombustíveis não está no pacote de inovações.

terça-feira, 11 de maio de 2010

É a economia, estúpido!

Está cada vez mais claro que quando falamos de conservação ambiental, na verdade falamos de economia. Ou mais propriamente das condições necessárias para que a economia possa se desenvolver com alguma segurança. Estudos como o recém publicado (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100511/not_imp549948,0.php) pelo Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas –Pnuma – é mais uma evidência desse aspecto. Desse modo tanto os estereótipos tanto do homem de negócios quanto do ambientalista tendem a se dissipar no decorrer desse século. Quem não entender falará sozinho.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Silêncio diante das cenas

Enquanto o Governador Arnold Schwarzenegger teve o bom senso de, mesmo que precisando, desistir de dar apoio estatal para a exploração de petróleo no mar (http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2010/05/california-desiste-de-apoiar-exploracao-de-petroleo-no-mar.html), no Brasil encantado com o Pré-sal reina o silêncio - não só o esperado(da indústria e do estado) mas também o da opinião pública.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Maré negra

Não bastasse todo o impacto relativo às mudanças climáticas, a indústria petrolífera de vez em quando nos dá um presente como a grande maré negra que agora chega ao litoral americano. Legalmente, os royalties são uma compensação financeira da indústria em função dos riscos e danos que podem causar (ainda que incalculáveis como este). Logo deveriam ser exclusivamente direcionadas para iniciativas de prevenção aos riscos, mitigação dos efeitos danosos e compensação ambiental. No Brasil eufórico com as descobertas no seu litoral, os royalties viraram uma das principais entradas de caixa dos governos como ficou claro na polêmica da lei do Pré-sal. Mais poços perfurados no mar, mais chances de acidentes como o americano. É hora de cobrar mais dessa indústria e compensar tanto os impactos globais - mudanças climáticas – quanto os locais – vazamentos como o americano. Mas também é hora de destinar esses recursos para os fins devidos.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Muita confusão por nada

A população brasileira poderia ter sido poupada de toda a confusão e todos os riscos incutidos na Usina de Belo Monte. A soma das capacidades das 478 interessadas em participara do leilão de energia alternativa que acontece ainda nesse primeiro semestre supera em muito a capacidade da mega-usina. Neste leilão se oferecerão mais de 14 GW, bem mais do que os 11 GW estimados de forma otimista para Belo Monte. Além de tudo, esses projetos são bem mais próximos dos centros de consumo e da rede do sistema, não precisando de todo o impacto financeiro e ambiental também da transmissão da energia gerada em plena Floresta Amazônica.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O aquecimento para as disputas do século

Enquanto o Brasil se prepara para sediar em Brasília, o World Agricultural Forum nos dias 12 e 13 de maio a fim de discutir entre outras coisas o desafio de se produzir alimentos e também combustíveis para uma população de 9 bilhões de habitantes concentrados em países como Índia, Paquistão, Indonésia, Bangladesh, Etiópia, Nigéria e Congo que já são fortes demandadores de alimentos. A sempre a agressiva China - outra forte demandadora de alimentos - parte para a ofensiva na compra de terras ao redor do mundo como mostra a matéria (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100427/not_imp543390,0.php). Agora chega ao Brasil com o habitual apetite. Resta saber como este país, que se mobilizou todo contra aquisições estrangeiras de terras brasileiras com fins preservacionistas, vai tratar a questão. Enquanto isso, nos EUA - outro demandante forte de alimentos - uma pesquisa mostra o que já sabíamos: a superfície florestal do planeta vem diminuindo consideravelmente (http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/afp/2010/04/26/superficie-florestal-mundial-diminui-31-de-2000-a-2005-diz-estudo.jhtm). Sem dúvida, este é um século bem diferente do anterior.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Por que não?

Confusões com hidrelétrica, com resíduos nucleares na Avenida Interlagos (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100423/not_imp541870,0.php) e mudanças climáticas globais. A lógica diria que o cenário está perfeito para o aproveitamento dos 143GW (numa estimativa mais do que conservadora) que temos como potencial no aproveitamento da energia eólica neste país.
O crescimento mundial desse mercado e o conseqüente ganho de escala permitiram a redução dos custos que levou a preços competitivos no leilão específico no final do ano passado. Logo, o mercado tem ajudado, mas uma mãozinha a mais do governo (que adora incentivar as mega-obras hídricas e nucleares) poderia assegurar o abastecimento de energia evitando todo esse colossal esforço e esses embates desnecessários.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Uma pequena pergunta para a obra grandiosa

É muito natural que uma obra de grande porte cause polêmica. Mas uma obra tão questionada tecnicamente (http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/04/belo-monte-sera-hidreletrica-menos-produtiva-e-mais-cara-dizem-tecnicos.html), economicamente (a retirada de um dos dois grupos que iriam concorrer, a liderança das estatais nas novas composições dos grupos, os fartos incentivos governamentais são mais que evidências) e ambientalmente (não apenas na obra, mas também no custo ambiental da transmissão) não deveria motivar uma maior reflexão? Para que toda essa pressa?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O eterno miserável abençoado

O Brasil é mesmo um país abençoado. Além da sua enorme quantidade de recursos hídricos superficiais, somos uma potência também em recursos hídricos subterrâneos. Além do já conhecido Aqüífero Guarani que tem 45 mil km³ de volume de água acaba de ser descoberto outro aqüífero na Amazônia com o dobro do potencial (http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/04/aquifero-na-amazonia-pode-ser-o-maior-do-mundo-dizem-geologos.html).
Enquanto isso, a nossa gestão dos recursos naturais continua a desejar. Exportamos recursos naturais sem internalizar os custos ambientais e a China já percebeu que é melhor importar do que arcar com os custos ambientais. O resultado é a “primarização” das exportações brasileiras anunciado pela Cláudia Trevisan em recente artigo para o Estadão.
É preciso que o impacto ambiental entre na conta da composição de preços e seja efetivamente destinado a ser uma compensação aos danos da exploração. Os royalties do petróleo, que é legalmente uma compensação, não são quase nunca utilizados para as atividades compensatórias. Isso precisa mudar e se necessário os royalties precisam ser aumentados. Do mesmo jeito, precisamos cobrar pelo uso da água se não, em breve estaremos exportando água para a China a preços míseros.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Reflexões gerais sobre os (vários) eventos

Enquanto em Salvador, os soteropolitanos sofrem com os temporais, aqui em São Paulo o tempo seco deixa o tempo “enevoado” de poluição. Ao contrário do que muitos pensam essa “névoa” de poluição que conseguimos ver é composta de outros poluentes que não são os chamados gases estufa e podem não ter relação nenhuma com eles. O mal que essa poluição “visível” nos causa tem efeito local e se restringe aos paulistanos que respiram esse ar. Os do aquecimento global são outros.
Além de emitirem esses poluentes que atingem diretamente a nossa saúde, os motores emitem de forma invisível e em proporção muito maior o principal gás efeito estufa: o dióxido de carbono. Este, aliado aos outros gases efeito estufa, são responsáveis pelo chamado aquecimento global que, entre outras coisas, aumenta a intensidade em tempo e extensão das chuvas, aumentando a ocorrência de tempestades como a de Salvador.
Mas isso nada tem a ver com a fumaça que respiramos em São Paulo e que nos ataca o sistema respiratório. O impacto dessa parte “visível” dos poluentes no clima é, segundo autores, inclusive, negativo para o aquecimento global uma vez que retém os raios solares evitando o chamado efeito estufa.
Não é à toa que a erupção de grandes vulcões - como o que tem atrapalhado toda a vida aérea no hemisfério norte – também causa alterações no clima global, mas no sentido de resfriar partes do planeta. Por sinal, parece que não só a atmosfera e seu o clima está desequilibrado - por razões que nós já conhecemos – ultimamente, mas também o subsolo. São muitos terremotos e erupções nos últimos tempos que, em princípio, nada tem a ver com a atuação agressiva do homem no já pequeno planeta.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Claramente inviável

Enquanto os celebrados BRICs se reúnem hoje em Brasília, uma notícia chama atenção no La Nacion (http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1254181): a Índia tem mais usuários de celulares que usuários de banheiros. Tido como um dos exemplos de pujança inclusive diante da crise mundial, esse país não poderia emitir um sinal mais claro da insustentabilidade deste modelo. E a matéria sequer ressalta um dado que um leitor atento pode perceber: cerca metade da população do mais que populoso país não tem nem celular nem banheiro.

sábado, 10 de abril de 2010

Não basta ser SUV, tem que achincalhar

Ao que parece tem gente que gosta de desastres como os que temos passado com as trombas d´água que têm assolado as capitais brasileiras. E, pior, não tem vergonha nenhuma de expor o seu sentimento. O comercial de um SUV com uma moça comemorando que não teve problema nenhum com enchentes é o símbolo de uma sociedade que cultiva ao mesmo tempo os desastres e também a esperteza de quem consegue ficar fora deles. A equipe de marketing da empresa poderia inclusive deixar mais claro a sua opção, filmando o desempenho do veículo em uma enchente e o desempenho do motorista jogando lixo pela janela, ou o depoimento “Eu posso jogar lixo na rua porque a enchente não me atinge com o meu SUV”. Parte disso os donos de SUV já fazem, já que emitem muito mais do CO2 que vai aquecer a Terra, que vai causar enchente e assim por diante. Como será que o mercado brasileiro vai reagir – já que o governo não reagiu - a esse filme? Lá fora, onde há um sentimento do bem comum um pouco mais arraigado do que aqui, a opção dos SUVs vem saindo de modo há algum tempo – e nem precisou de uma propaganda dessas.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Desastres surreais

Ontem houve mais um desmoronamento em Niterói. O pior de todos. Mais de 50 casas soterradas. De noite, durante o socorro, não se via muita coisa além da boa vontade das equipes de salvamento e da comunidade. De manhã, o coordenador da Defesa Civil percebe que o que havia deslizado não era terra, era lixo. A comunidade havia se instalado em um antigo lixão e pelo visto ninguém sabia. Os procedimentos tiveram que ser todos alterados para evitar contaminação, mas as equipes já haviam trabalhado naquele terreno contaminado a noite toda.
É muito surreal. O governo e a prefeitura – surpresos – pedem ajuda ao Governo Federal que dedica metade dos recursos do programa Prevenção e Preparação para Desastres para a Bahia (reduto eleitoral do ex-ministro da integração –pasta responsável pelo programa) e o Tribunal de Contas – também surpreso - diz que vai investigar.
O descaso com o tema em um país historicamente mal acostumado só com as benesses naturais é impressionante. Argumentar que os royalties do petróleo são disputados para assegurar a prevenção dos riscos e impactos da atividade só pode ser piada.
O Brasil e seus políticos fariam um grande favor ao bom senso se começassem a usar esses recursos para o seu devido fim e um deles é garantir segurança para a sua população em um mundo cheio de riscos climáticos. Riscos proporcionados por um aquecimento global do qual os combustíveis fósseis como o petróleo são os principais responsáveis. Se for necessário mais recursos para o Rio e para o Brasil, deixamos de choradeira: que se taxe mais o petróleo, seja com o aumento das alíquotas dos royalies, seja com o outro tributo específico e se dê um jeito nessas aberrações ambientais.
A seguir desse jeito levaremos todos os títulos de surrealidades nos próximos anos. Não é qualquer país que consegue repetir o feito de soterrar a sua população com seu próprio lixo.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Carta ao Tom 2010

Tonzinho querido, hoje as águas de março - que um dia você cantou – invadiram abril e assolaram o seu querido Rio de Janeiro. As águas vieram intensas, uma característica deste século XXI que você não chegou a conhecer, mas não foram as únicas culpadas. O concreto e asfalto que impermeabilizam e apertam os rios, as invasões das construções nas áreas de mata também ajudaram o caos. Pasme, Tonzinho querido, mas em tempo dessas mudanças climáticas inegáveis, ainda temos um problema básico de cidadania e que deveria ter sido resolvido desde a época de Pereira Passos: o lixo nas ruas. Os bueiros, em qualquer cidade brasileira, são completamente insuficientes para escoar água em uma nação que não cuida das suas ruas. Sentimos imensa falta de um, mas precisaríamos de mais de mil Tons neste século para quem sabe o homem comece a ouvir os recados do bom senso.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Deu no New York Times: Países do sudeste asiático culpam a China pela seca

Chuvas abaixo do normal hoje são sintomas de crises diplomáticas em qualquer região do mundo. Mas no densamente povoado sudeste asiático, a questão tende a ser um barril de pólvora. O rio Mekong, fundamental para cinco países: Mianmar, Laos, Camboja e Vietnã e Tailândia, recebe só na sua parte chinesa quatro represas de grande porte para a geração hidrelétrica. Além do impacto da produção pesqueira, já há problemas de navegação e abastecimento de água rio abaixo. A despeito dos esforços diplomáticos chineses para demonstrar que a culpa é da natureza, há uma grande insatisfação dos estados e comunidades à jusante, demonstrando mais uma vez que as medidas de valor entre os recursos naturais não serão no século atual as mesmas do que passou.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dois anúncios em um

Obama comemorou hoje a criação de 162 mil empregos líquidos que aponta a retomada do mercado de trabalho nos EUA. Esses números são sintomáticos, mas ainda mais se considerarmos o local em que o Presidente anunciou o fato: uma fábrica de componentes de baterias para veículos ecológicos em Charlotte (Carolina do Norte). São os empregos verdes e os sinais evidentes da nova economia.

Por enquanto

Por enquanto, Marina Silva tem a imagem estritamente associada às questões ambientais. Por enquanto também, as questões ambientais têm no imaginário das pessoas uma limitação aos temas relacionados à natureza. Por enquanto, ela tem oito por cento do eleitorado. Não é pouco, mas se essas duas barreiras forem ultrapassadas, a candidatura será bastante promissora em um cenário de polarização mais emocional do que concreta.
A primeira superação depende mais da competência da sua equipe e do seu partido. A segunda, embora seja um processo muito mais complexo, já vem sendo superada, especialmente em uma camada mais esclarecida da população. Estas já percebem claramente que as questões ambientais dizem principalmente ao homem e a sua qualidade de vida neste planeta limitado.
Provavelmente o pessoal que criou o genial site Cidade Democrática (www.cidadedemocratica.com.br) para a troca de informações e busca de soluções para todos os problemas relativos à cidade, não imaginaria que os temas mais discutidos seriam relativos ao meio ambiente. Mas está lá para quem quiser conferir a tag ambiental em destaque em uma nuvem de problemas relevantes.

quarta-feira, 31 de março de 2010

A ultrapassagem

Enquanto o Brasil, que já tem um biocombustível consolidado - e teria tudo para exportar a sua tecnologia de baixa emissão de carbono para veículos automotores -, não consegue assegurar as suas vantagens conquistadas (vide a redução do percentual de etanol na gasolina), o resto do mundo parece optar por outra rota tecnológica. O carro elétrico parece ganhar cada vez mais espaço, superando desafios bem mais complexos do que o do etanol – como, por exemplo, a rede de abastecimento. Israel promete para 2011, uma rede de abastecimento para carros elétricos consolidada. É claro que neste caso há a vantagem da dimensão territorial do país, mas mesmo em países continentais, as montadoras não param de apresentar modelos elétricos, ou no máximo, híbridos. Não é para jogar dinheiro fora que a Nissan acaba de lançar o seu elétrico popular – o Leaf – na terra do Tio Sam. Pelo visto, embora tenhamos largado na frente, mais uma vez ficaremos para trás. E o pior de tudo é que tudo o que enxergamos, brigamos, investimos bilhões - e não abrimos mão - só se enxerga pelo retrovisor: petróleo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Corrigindo a rota com o mesmo ímpeto que avança

Que a China subdesenvolvida já faz parte de uma história muito distante (embora faça pouco mais do que vinte anos), todos sabemos. Mas que a China também começa a deixar para trás a história do seu desenvolvimento sujo menos gente sabe. Para se ter uma idéia, a China simplesmente vem dobrando a sua capacidade de geração eólica em cada um dos últimos cinco anos e a sua capacidade, em números absolutos, já em 2010, só será inferior aos EUA. Neste ano deve-se atingir a meta de 30 GW com dez anos de antecedência. Agora a meta para 2020 é 100 GW o que corresponde a toda a capacidade instalada no Brasil. É muita coisa, especialmente para uma economia energeticamente fundada no sujo carvão mineral. E se o gigante venceu toda a força inercial (figura de linguagem, mas para muitos, pode-se atribuir a literalidade) para mudar de rota, é porque o caminho não tem volta.

quinta-feira, 25 de março de 2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

Menos Xico, menos

Xico Graziano é um ambientalista pragmático e talvez por isso a sua gestão na Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo seja boa. Entretanto, no seu artigo de ontem na coluna Opinião do Estado de São Paulo (www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100323/not_imp527986,0.php) ele errou a mão.
Na sua defesa da atividade agropecuária com relação ao seu impacto no aquecimento global foi um tanto quanto condescendente, especialmente com a atividade pecuária, que, especialmente no Brasil tem um impacto extremamente relevante. Não apenas em função da emissão de metano que é significativa ainda que este gás seja só (?!!) 6 vezes maior que o dióxido de carbono, como ele defende no texto.
Isto porque é visível (e não é força de linguagem) que um pasto qualquer fixa muito pouco carbono resgatado da atmosfera. Cálculos detalhados à parte, podemos entender que tudo o que vemos (e o que não vemos, no subsolo) de matéria orgânica e seres vivos é carbono fixado. Deste modo, não é preciso ser matemático para saber que nos vastos campos de pastagem há muito menos carbono fixado do que em outras atividades agrárias, quanto mais se relacionados às áreas originais de mata atlântica ou cerrado.
Isso sem falar nas áreas degradadas (muito mais freqüentes em áreas de pastagem) que obviamente fixam muito menos carbono.
Alia-se a tudo isso a área que ocupa (quase quatro quintos da área agriculturável brasileira) sem agregar valor econômico - e muito menos social - similar. É muita terra, muito recurso natural consumido, para um retorno quase pífio. Tudo com um péssimo balanço de carbono. O setor começa a mudar o seu posicionamento, mas – exceção feitas a poucos pecuaristas – é um dos setores ainda mais atrasados.

terça-feira, 23 de março de 2010

Políticas públicas, objetivos e metas

Desde o surgimento do estado moderno, uma contradição básica vem se arrastando, ainda que vestida de diversos rótulos: a abordagem técnico-burocrática contra a política. No Brasil esse conflito, em virtude da instabilidade política característica da sua história, tornou-se ainda mais incisivo. Tanto a desconfiança com a classe política, como políticos que se fiavam no clamor popular, já atentaram contra os regimes democrático e de direito (são mesmo distintos).
Até hoje há uma grande incompreensão entre as partes desse conflito, mas alguma coisa se avançou no decorrer dos anos. A inserção de uma noção básica de planejamento exigida até mesmo pela constituição e a estabilidade política – que tem o seu período mais duradouro e parece não ser mais ameaçada - têm os seus méritos nesses avanços.
A elaboração das políticas passa a tentar se conciliar com instrumentos de planejamento. Essa coesão ajuda muito na objetividade das políticas que, portanto, não têm porque temer a aferição de seus resultados, nem o estabelecimento de metas e indicadores. Isso em todas as políticas e, é lógico, nas de cunho ambiental.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A água e o senso de emergência

Embora desde adolescente eu tenha a percepção geral da necessidade do equilíbrio ecológico para o bem estar humano, a questão hídrica que me fez perceber claramente que crises ambientais já não são questões futurísticas. A crise da água já é uma realidade - e não é de hoje.
Não são todos que se lembram, mas na metade dos anos noventa, tínhamos um rodízio de abastecimento de água institucionalizado na Região Metropolitana de São Paulo, com cronograma de abastecimento e a certeza de que água não era um luxo de todo dia. A situação melhorou quando a região ampliou a quantidade de água importada de outras bacias. Em especial dos rios que também abastecem a Região Metropolitana de Campinas. Quase metade da água consumida em São Paulo é importada dessa região. Poucas bacias hidrográficas poderiam dar conta de abastecer duas regiões metropolitanas desses portes e que, pior, continuam crescendo. E o resultado não poderia ser outro: já não há mais água para todos. São Paulo já começou a buscar mananciais em outras bacias. O Vale do Paraíba já está na mira. Muita disputa se dará com a região, que é extremamente relevante. Ainda mais porque a bacia abastece grande parte do estado do Rio de Janeiro.
Embora essas disputas não venham à tona com a transparência necessária, muito já se avançou na conscientização da importância da preservação desse elemento para a nossa qualidade de vida e atividade econômica. O consumo mensal médio por residência caiu de 19 mil litros para 13 mil litros em de 1998 para cá. As indústrias têm avançado consideravelmente e programas de racionalização do uso de água, mas isso não tem sido suficiente para evitar todos esses conflitos. Afinal, só na RMSP, mil novas ligações são feitas a cada ano.
Além da evidente universalização de tratamento de esgotos, duas ferramentas precisam ser implantadas e universalizadas urgentemente para dar racionalidade ao manejo desse elemento essencial e evitar os conflitos eminentes: a cobrança pelo uso da água e o pagamento por serviços ambientais. De um lado se controla o consumo e de outro se assegura a quantidade e a qualidade desse elemento essencial não só para a vida, mas também para a economia. É dar valor para o que de fato tem valor. E nada é mais urgente que isso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O Brasil dos caminhos tortos

A grande polêmica que envolve os estados brasileiros em torno dos royalties do petróleo dá a exata medida de como o Brasil trata os seus recursos. Tudo é visto de forma imediata, para benefício próprio e sem medir qualquer consequência na apropriação. Essa disputa mesquinha, sem muitos pudores parece mesmo uma disputa de ponto de droga. Aliás as semelhanças não param por aí, porque o objeto da briga são os resultados da venda de um produto que traz enormes prejuízos para a saúde (neste caso do planeta).
Mesmo e principalmente os que são a favor da legalização de drogas defendem que estas devem ser significativamente taxadas para cubrirem os gastos decorrentes do produto como tratamentos de saúde, segurança e demais prejuízos socializados. O mesmo precisaria ser feito com o petróleo. O petróleo precisaria cobrir os impactos e ameaças ambientais locais (como defendem os estados produtores) e também os impactos globais e, portanto, também nacionais (o que justificaria uma distribuição entre os estados). Por essa razão seria importante aumentar as aliquotas dos royalties e (ovo de colombo) contemplar todas as expectativas. Seria uma solução mágica. Pois além de satisfazermos todos os pleitos, estaríamos alinhados (ainda que por caminhos tortuosos) com o resto do mundo que taxa progressivamente as emissões dos gases efeito estufa e se encaminha para a economia de baixo carbono.

terça-feira, 16 de março de 2010

A crise e o anúncio da próxima

Quando essa crise econômica eclodiu, Sérgio Besserman - que apesar de economista, não costuma errar – falou que a crise provavelmente teria mais impacto na redução dos gases efeito do que qualquer iniciativa mundial voltada para a questão das mudanças climáticas. Um ano depois a Agência Internacional de Energia estimou em setembro que as emissões de dióxido de carbono cairiam cerca de 2,6% em 2009 devido ao declínio na atividade industrial.
Entretanto, segundo as mais recentes medições na estação norueguesa Zeppelin, a quantidade de carbono na atmosfera não sentiu tanto o impacto da crise. Continuou a aumentar (393,71 partes por milhão da atmosfera nas primeiras duas semanas de março, contra 393,17 partes por milhão no mesmo período de 2009). A razão é que a crise não foi tão forte quanto se previa. Países gigantes, como China e Índia continuaram a crescer, não tanto quanto antes, mas em um ritmo de fazer inveja ao período recente do Brasil (respectivamente 8,7 e 6,5). A combinação das taxas de crescimentos (ano após ano, sem interrupção) dessas economias com os seus dados populacionais nem de longe parecem caber nesse planeta restrito.
O clima até agora se mostrou a parte mais frágil. As 280 partes por milhão de CO2 (que era uma realidade do período pós industrial) parece uma realidade de outro planeta e os efeitos das mudanças climáticas todos conhecemos já emitem os seus sinais - não só neste ano ainda mais atípico devido a outros fenômenos climáticos-, mas também nos anos recentes. Tudo indica que se não houver mudanças drásticas no comportamento humano, a tão temida crise ambiental não ultrapassará esta geração. Mas nesse ritmo de crescimento e consumo dos chineses e indianos é possível que se sinta falta de outros recursos naturais antes mesmo de se sentir os piores efeitos das mudanças do clima. E o primeiro impacto será, como sempre, nos preços.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Um grande problema na nossa mesa

Até o final da década de setenta, comer peixe cru no Brasil, era uma espécie de aberração. O Japão já se apresentava ao mundo como uma emergente industrialização - que ainda não colhia os benefícios de suas revolucionárias formas de gestão iniciadas a partir da década de 50 - e com seus desenhos animados que inundavam em uma televisão sem padrão de qualidade.
A partir dos 80, a situação mudou. O Japão virou exemplo de tudo em um mundo que buscava conciliar produtividade e qualidade. As suas indústrias e os seus trabalhadores eram exemplos de adaptação aos novos tempos e a cultura japonesa foi intensamente difundida por todos os cantos do mundo. O resultado é que raro agora é quem não gosta de Sushi, não o contrário.
O resultado se fez sentir no mar. Entre 1957 e 2007, as reservas de atum vermelho (o peixe tradicional do Sushi) diminuíram 75%. A continuar esse ritmo, os atuns não chegarão a virar a próxima década. É por essa razão que a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (CITES), que se realiza em Doha no Catar estuda a proibição de comércio de atum. Independentemente das suas deliberações finais, com a força da União Européia e dos EUA, essa medida já é um alerta para quem aprendeu a gostar do tradicional Sushi.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Reflexão sobre as lágrimas

O desespero do governador do Rio de Janeiro - que chegou a cair em prantos - com a possibilidade de perder os recursos dos royalties do petróleo, bem como os números logo levantados para mostrar que o estado iria quebrar, ao invés de me sensibilizar, tornou-me reflexivo. Em princípio parece justo que os estados e municípios afetados pela suja e arriscada atividade do petróleo tenham direito mesmo a compensações. Afinal os royalties tem mesmo essa função: preparar os mesmos tanto para dar conta dos impactos ambientais –os inevitáveis e os possíveis -, bem como para prepará-los para o período posterior, o pós-boom do petróleo. Este último quesito deveria ganhar ainda maior relevância uma vez que o fim do reinado do petróleo é eminente e a sua importância acabará muito antes da exaustão das suas reservas.
Preparar os países, estados, municípios, empresas e comportamentos para a chamada economia de baixo carbono é uma prioridade para todos no mundo atual, até para os mais tradicionais e maiores produtores de petróleo (ver post do dia 10). Os mais diferentes atores estão empenhados nisso e isso será uma questão de sobrevivência durante esse século. Mas será que o Rio está aplicando estes royalties corretamente? Será que os 7,2 bilhões anuais que motivaram o pranto do governador estão mesmo sendo aplicados na preparação do estado e de seus municípios para uma economia de baixo carbono, ou para mitigação e prevenção dos impactos ambientais? Ou será que esse dinheiro serve para simplesmente manter o caixa das pessoas jurídicas. A reação de desespero (parecida com a de quem perde o emprego) e os volumes de recursos levantados (se contrapostos com as fatias orçamentárias das pastas de meio ambiente) demonstram que esses royalties, embora justos, estão sendo aplicados de forma errada.
E isso deveria ser a principal preocupação dos cariocas e fluminenses, pois, mais cedo do que se pensa o petróleo perderá a majestade. E o estado não estará preparado, como não se preparou para outras ocasiões similares como a mudança de capital e nem sequer para situações opostas como o tão querido boom de petróleo (quem conhece Macaé sabe muito bem que não houve preparação nenhuma).
Seria importante que esse susto (acho pouco provável que isso siga adiante), sirva de alerta para as autoridades do estado, que, ao que parece estão muito pouco preparados para o eminente fim da era do petróleo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Uma hora de puro desperdício e as análises econômicas

Quatro pistas tomadas de carros – todos parados – por quase três quilômetros. Esta cena cotidiana para os moradores de São Paulo e de outras metrópoles brasileiras não deixou de ser uma experiência dramática para este autor e, portanto, não poderia deixar de ser um tema neste blog.
A cena era o símbolo do desperdício. Queimávamos toneladas de combustíveis para ficar literalmente parados. O sol já castigante naquele horário da manhã obrigava o funcionamento do ar condicionado e aumentava o nosso consumo de combustíveis.
Alheio ao drama, o noticiário, entretanto, era positivo. Especialmente as econômicas. Feitas as contas, o PIB não regrediu no ano de 2009 tanto quanto em outras nações. Foi-me inevitável constatar que nós, embora plenamente e irritantemente ociosos, contribuiríamos positivamente para os resultados de 2010.
Teríamos que repor todo aquele combustível literalmente queimado para ficar parado ou no máximo alcançar uma velocidade bem menor do que teríamos ao optar pelo calçado. Os que sucumbiram ao ar condicionado contribuíam mais. Mas os que gostam de carros grandes contribuiram ainda mais. Não só torrando mais combustível que teria de ser reposto nos postos, mas também ocupando mais espaço e contribuindo para a pouca fluência do trânsito.
Mas o que produzíamos de fato para contribuir com o indicador chamado Produto Interno Bruto? Nada. Sequer descansávamos para nos tornar mais produtivos no dia que se iniciava. Torrávamos combustíveis, gastávamos dinheiro à toa, desgastávamos os nossos ativos (carros) e a nós próprios. Sem falar nas emissões de gases e poluentes que afetam (negativamente) a saúde da população (nossa) e do planeta. Mesmo assim consumíamos e, portanto, segundo a lógica macroeconômica contribuíamos para resultados positivos na economia. Pareceu-me uma perfeita insensatez que aquela situação e aquele tipo de consumo contribuíssem positivamente com alguma coisa, especialmente com alguma coisa com esse nome: economia. Tudo aquilo era puro desperdício e certamente impactava negativamente em tudo. O leitor pode julgar: estou certo, ou esse é apenas um mero raciocínio de alguém irritado com o trânsito?

quarta-feira, 10 de março de 2010

O novo mundo tecnológico em poucas linhas

É impressionante como as grandes revoluções humanas, as grandes viradas da história podem estar contidas em notícias simples que sequer são percebidas por muitas pessoas.
Dois aspectos da notícia veiculada hoje na Folha On Line “IBM projeta plástico biodegradável à base de vegetais” (confira a íntegra da notícia no link http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u704336.shtml) são muito representativas da grande revolução que passamos sem nos darmos muita conta. O primeiro é que o ícone da revolução paradigmática dos anos 70 e 80: a informatização e sua disseminação, agora se debruça no desenvolvimento de soluções ambientalmente amigáveis. O outro aspecto, não tão evidente por não estar no título, é que o desenvolvimento desse produto se dá na "Cidade saudita para a Ciência e a Tecnologia" de King Abdul Aziz. Ou seja, os principais produtores mundiais de petróleo, atentos à realidade do declínio inevitável do uso dos combustíveis fósseis e buscam, através da geração de conhecimento se posicionar como protagonista no cenário que se desenha.

terça-feira, 9 de março de 2010

Um bom começo

Começamos. E começamos por uma política pública exemplar. Pouca gente conhece, uma vez que se realiza em um estado considerado pequeno. No Espírito Santo, um estado cercado por Rio, Minas e Bahia – e que não fica no nordeste, como pensam alguns -, uma importante iniciativa do governo comemora um ano: o pagamento por serviços ambientais.
Tal iniciativa vem a dar significado aos produtores o que sabemos todos: uma floresta em pé, vale muito mais do que derrubada. Especialmente nas margens dos corpos d´água e nas encostas íngremes. Vale mais – todos sabemos – para manter a qualidade e quantidade da água que tanto precisamos. Vale mais para evitar desmoronamentos e voçorocas e preservar a qualidade do solo. Vale mais também no balanço de carbono. Vale, em todos os sentidos incomparavelmente mais do que o tradicional pasto que ocupa a maior parte das áreas agriculturáveis e – pessimamente - ocupadas no Brasil. OK, sabemos de tudo isso, mas porque o proprietário prefere, ainda que fazendo algo proibido, derrubar a mata e estender o seu pasto até o rio ou morro acima?
Simplesmente porque para ele vale a pena. Vale a pena porque não criamos nenhum mecanismo que exprima todo o valor social e ambiental da mata preservada. Pois esse mecanismo é o que começa a ser experimentado no Espírito Santo. Mais especificamente na parte alta do estado, responsável pelos mananciais que abastecem as regiões litorâneas e mais populosas. É onde a água vale mais e, conseqüentemente, a preservação vale mais. Por isso, o Estado começou o pagamento por lá. Mas ao que parece, a idéia é estender a iniciativa para todo o estado.
A comemoração de um ano é ainda mais importante que o lançamento do Projeto (que se chama ProdutorES de Água), já que um dos grandes riscos desse tipo de projeto é a não sistematização do mesmo. Paga-se uma vez, faz-se um alarde e depois nunca mais (falta recursos, mudam os governos, as prioridades etc.). Ao que parece não será assim no Estado. Há lei instituindo o pagamento, metodologia, e, principalmente, recursos (uma parte dos royalties do petróleo). Com isso há razões de sobra para comemorar um ano de pagamento de serviços ambientais no Brasil, ainda que em uma pequena região do pequeno estado do Espírito Santo.