sexta-feira, 30 de abril de 2010

Maré negra

Não bastasse todo o impacto relativo às mudanças climáticas, a indústria petrolífera de vez em quando nos dá um presente como a grande maré negra que agora chega ao litoral americano. Legalmente, os royalties são uma compensação financeira da indústria em função dos riscos e danos que podem causar (ainda que incalculáveis como este). Logo deveriam ser exclusivamente direcionadas para iniciativas de prevenção aos riscos, mitigação dos efeitos danosos e compensação ambiental. No Brasil eufórico com as descobertas no seu litoral, os royalties viraram uma das principais entradas de caixa dos governos como ficou claro na polêmica da lei do Pré-sal. Mais poços perfurados no mar, mais chances de acidentes como o americano. É hora de cobrar mais dessa indústria e compensar tanto os impactos globais - mudanças climáticas – quanto os locais – vazamentos como o americano. Mas também é hora de destinar esses recursos para os fins devidos.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Muita confusão por nada

A população brasileira poderia ter sido poupada de toda a confusão e todos os riscos incutidos na Usina de Belo Monte. A soma das capacidades das 478 interessadas em participara do leilão de energia alternativa que acontece ainda nesse primeiro semestre supera em muito a capacidade da mega-usina. Neste leilão se oferecerão mais de 14 GW, bem mais do que os 11 GW estimados de forma otimista para Belo Monte. Além de tudo, esses projetos são bem mais próximos dos centros de consumo e da rede do sistema, não precisando de todo o impacto financeiro e ambiental também da transmissão da energia gerada em plena Floresta Amazônica.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O aquecimento para as disputas do século

Enquanto o Brasil se prepara para sediar em Brasília, o World Agricultural Forum nos dias 12 e 13 de maio a fim de discutir entre outras coisas o desafio de se produzir alimentos e também combustíveis para uma população de 9 bilhões de habitantes concentrados em países como Índia, Paquistão, Indonésia, Bangladesh, Etiópia, Nigéria e Congo que já são fortes demandadores de alimentos. A sempre a agressiva China - outra forte demandadora de alimentos - parte para a ofensiva na compra de terras ao redor do mundo como mostra a matéria (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100427/not_imp543390,0.php). Agora chega ao Brasil com o habitual apetite. Resta saber como este país, que se mobilizou todo contra aquisições estrangeiras de terras brasileiras com fins preservacionistas, vai tratar a questão. Enquanto isso, nos EUA - outro demandante forte de alimentos - uma pesquisa mostra o que já sabíamos: a superfície florestal do planeta vem diminuindo consideravelmente (http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/afp/2010/04/26/superficie-florestal-mundial-diminui-31-de-2000-a-2005-diz-estudo.jhtm). Sem dúvida, este é um século bem diferente do anterior.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Por que não?

Confusões com hidrelétrica, com resíduos nucleares na Avenida Interlagos (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100423/not_imp541870,0.php) e mudanças climáticas globais. A lógica diria que o cenário está perfeito para o aproveitamento dos 143GW (numa estimativa mais do que conservadora) que temos como potencial no aproveitamento da energia eólica neste país.
O crescimento mundial desse mercado e o conseqüente ganho de escala permitiram a redução dos custos que levou a preços competitivos no leilão específico no final do ano passado. Logo, o mercado tem ajudado, mas uma mãozinha a mais do governo (que adora incentivar as mega-obras hídricas e nucleares) poderia assegurar o abastecimento de energia evitando todo esse colossal esforço e esses embates desnecessários.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Uma pequena pergunta para a obra grandiosa

É muito natural que uma obra de grande porte cause polêmica. Mas uma obra tão questionada tecnicamente (http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/04/belo-monte-sera-hidreletrica-menos-produtiva-e-mais-cara-dizem-tecnicos.html), economicamente (a retirada de um dos dois grupos que iriam concorrer, a liderança das estatais nas novas composições dos grupos, os fartos incentivos governamentais são mais que evidências) e ambientalmente (não apenas na obra, mas também no custo ambiental da transmissão) não deveria motivar uma maior reflexão? Para que toda essa pressa?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O eterno miserável abençoado

O Brasil é mesmo um país abençoado. Além da sua enorme quantidade de recursos hídricos superficiais, somos uma potência também em recursos hídricos subterrâneos. Além do já conhecido Aqüífero Guarani que tem 45 mil km³ de volume de água acaba de ser descoberto outro aqüífero na Amazônia com o dobro do potencial (http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/04/aquifero-na-amazonia-pode-ser-o-maior-do-mundo-dizem-geologos.html).
Enquanto isso, a nossa gestão dos recursos naturais continua a desejar. Exportamos recursos naturais sem internalizar os custos ambientais e a China já percebeu que é melhor importar do que arcar com os custos ambientais. O resultado é a “primarização” das exportações brasileiras anunciado pela Cláudia Trevisan em recente artigo para o Estadão.
É preciso que o impacto ambiental entre na conta da composição de preços e seja efetivamente destinado a ser uma compensação aos danos da exploração. Os royalties do petróleo, que é legalmente uma compensação, não são quase nunca utilizados para as atividades compensatórias. Isso precisa mudar e se necessário os royalties precisam ser aumentados. Do mesmo jeito, precisamos cobrar pelo uso da água se não, em breve estaremos exportando água para a China a preços míseros.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Reflexões gerais sobre os (vários) eventos

Enquanto em Salvador, os soteropolitanos sofrem com os temporais, aqui em São Paulo o tempo seco deixa o tempo “enevoado” de poluição. Ao contrário do que muitos pensam essa “névoa” de poluição que conseguimos ver é composta de outros poluentes que não são os chamados gases estufa e podem não ter relação nenhuma com eles. O mal que essa poluição “visível” nos causa tem efeito local e se restringe aos paulistanos que respiram esse ar. Os do aquecimento global são outros.
Além de emitirem esses poluentes que atingem diretamente a nossa saúde, os motores emitem de forma invisível e em proporção muito maior o principal gás efeito estufa: o dióxido de carbono. Este, aliado aos outros gases efeito estufa, são responsáveis pelo chamado aquecimento global que, entre outras coisas, aumenta a intensidade em tempo e extensão das chuvas, aumentando a ocorrência de tempestades como a de Salvador.
Mas isso nada tem a ver com a fumaça que respiramos em São Paulo e que nos ataca o sistema respiratório. O impacto dessa parte “visível” dos poluentes no clima é, segundo autores, inclusive, negativo para o aquecimento global uma vez que retém os raios solares evitando o chamado efeito estufa.
Não é à toa que a erupção de grandes vulcões - como o que tem atrapalhado toda a vida aérea no hemisfério norte – também causa alterações no clima global, mas no sentido de resfriar partes do planeta. Por sinal, parece que não só a atmosfera e seu o clima está desequilibrado - por razões que nós já conhecemos – ultimamente, mas também o subsolo. São muitos terremotos e erupções nos últimos tempos que, em princípio, nada tem a ver com a atuação agressiva do homem no já pequeno planeta.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Claramente inviável

Enquanto os celebrados BRICs se reúnem hoje em Brasília, uma notícia chama atenção no La Nacion (http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1254181): a Índia tem mais usuários de celulares que usuários de banheiros. Tido como um dos exemplos de pujança inclusive diante da crise mundial, esse país não poderia emitir um sinal mais claro da insustentabilidade deste modelo. E a matéria sequer ressalta um dado que um leitor atento pode perceber: cerca metade da população do mais que populoso país não tem nem celular nem banheiro.

sábado, 10 de abril de 2010

Não basta ser SUV, tem que achincalhar

Ao que parece tem gente que gosta de desastres como os que temos passado com as trombas d´água que têm assolado as capitais brasileiras. E, pior, não tem vergonha nenhuma de expor o seu sentimento. O comercial de um SUV com uma moça comemorando que não teve problema nenhum com enchentes é o símbolo de uma sociedade que cultiva ao mesmo tempo os desastres e também a esperteza de quem consegue ficar fora deles. A equipe de marketing da empresa poderia inclusive deixar mais claro a sua opção, filmando o desempenho do veículo em uma enchente e o desempenho do motorista jogando lixo pela janela, ou o depoimento “Eu posso jogar lixo na rua porque a enchente não me atinge com o meu SUV”. Parte disso os donos de SUV já fazem, já que emitem muito mais do CO2 que vai aquecer a Terra, que vai causar enchente e assim por diante. Como será que o mercado brasileiro vai reagir – já que o governo não reagiu - a esse filme? Lá fora, onde há um sentimento do bem comum um pouco mais arraigado do que aqui, a opção dos SUVs vem saindo de modo há algum tempo – e nem precisou de uma propaganda dessas.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Desastres surreais

Ontem houve mais um desmoronamento em Niterói. O pior de todos. Mais de 50 casas soterradas. De noite, durante o socorro, não se via muita coisa além da boa vontade das equipes de salvamento e da comunidade. De manhã, o coordenador da Defesa Civil percebe que o que havia deslizado não era terra, era lixo. A comunidade havia se instalado em um antigo lixão e pelo visto ninguém sabia. Os procedimentos tiveram que ser todos alterados para evitar contaminação, mas as equipes já haviam trabalhado naquele terreno contaminado a noite toda.
É muito surreal. O governo e a prefeitura – surpresos – pedem ajuda ao Governo Federal que dedica metade dos recursos do programa Prevenção e Preparação para Desastres para a Bahia (reduto eleitoral do ex-ministro da integração –pasta responsável pelo programa) e o Tribunal de Contas – também surpreso - diz que vai investigar.
O descaso com o tema em um país historicamente mal acostumado só com as benesses naturais é impressionante. Argumentar que os royalties do petróleo são disputados para assegurar a prevenção dos riscos e impactos da atividade só pode ser piada.
O Brasil e seus políticos fariam um grande favor ao bom senso se começassem a usar esses recursos para o seu devido fim e um deles é garantir segurança para a sua população em um mundo cheio de riscos climáticos. Riscos proporcionados por um aquecimento global do qual os combustíveis fósseis como o petróleo são os principais responsáveis. Se for necessário mais recursos para o Rio e para o Brasil, deixamos de choradeira: que se taxe mais o petróleo, seja com o aumento das alíquotas dos royalies, seja com o outro tributo específico e se dê um jeito nessas aberrações ambientais.
A seguir desse jeito levaremos todos os títulos de surrealidades nos próximos anos. Não é qualquer país que consegue repetir o feito de soterrar a sua população com seu próprio lixo.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Carta ao Tom 2010

Tonzinho querido, hoje as águas de março - que um dia você cantou – invadiram abril e assolaram o seu querido Rio de Janeiro. As águas vieram intensas, uma característica deste século XXI que você não chegou a conhecer, mas não foram as únicas culpadas. O concreto e asfalto que impermeabilizam e apertam os rios, as invasões das construções nas áreas de mata também ajudaram o caos. Pasme, Tonzinho querido, mas em tempo dessas mudanças climáticas inegáveis, ainda temos um problema básico de cidadania e que deveria ter sido resolvido desde a época de Pereira Passos: o lixo nas ruas. Os bueiros, em qualquer cidade brasileira, são completamente insuficientes para escoar água em uma nação que não cuida das suas ruas. Sentimos imensa falta de um, mas precisaríamos de mais de mil Tons neste século para quem sabe o homem comece a ouvir os recados do bom senso.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Deu no New York Times: Países do sudeste asiático culpam a China pela seca

Chuvas abaixo do normal hoje são sintomas de crises diplomáticas em qualquer região do mundo. Mas no densamente povoado sudeste asiático, a questão tende a ser um barril de pólvora. O rio Mekong, fundamental para cinco países: Mianmar, Laos, Camboja e Vietnã e Tailândia, recebe só na sua parte chinesa quatro represas de grande porte para a geração hidrelétrica. Além do impacto da produção pesqueira, já há problemas de navegação e abastecimento de água rio abaixo. A despeito dos esforços diplomáticos chineses para demonstrar que a culpa é da natureza, há uma grande insatisfação dos estados e comunidades à jusante, demonstrando mais uma vez que as medidas de valor entre os recursos naturais não serão no século atual as mesmas do que passou.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dois anúncios em um

Obama comemorou hoje a criação de 162 mil empregos líquidos que aponta a retomada do mercado de trabalho nos EUA. Esses números são sintomáticos, mas ainda mais se considerarmos o local em que o Presidente anunciou o fato: uma fábrica de componentes de baterias para veículos ecológicos em Charlotte (Carolina do Norte). São os empregos verdes e os sinais evidentes da nova economia.

Por enquanto

Por enquanto, Marina Silva tem a imagem estritamente associada às questões ambientais. Por enquanto também, as questões ambientais têm no imaginário das pessoas uma limitação aos temas relacionados à natureza. Por enquanto, ela tem oito por cento do eleitorado. Não é pouco, mas se essas duas barreiras forem ultrapassadas, a candidatura será bastante promissora em um cenário de polarização mais emocional do que concreta.
A primeira superação depende mais da competência da sua equipe e do seu partido. A segunda, embora seja um processo muito mais complexo, já vem sendo superada, especialmente em uma camada mais esclarecida da população. Estas já percebem claramente que as questões ambientais dizem principalmente ao homem e a sua qualidade de vida neste planeta limitado.
Provavelmente o pessoal que criou o genial site Cidade Democrática (www.cidadedemocratica.com.br) para a troca de informações e busca de soluções para todos os problemas relativos à cidade, não imaginaria que os temas mais discutidos seriam relativos ao meio ambiente. Mas está lá para quem quiser conferir a tag ambiental em destaque em uma nuvem de problemas relevantes.